A CLAREZA DA ESCRITURA
A Bíblia muitas vezes fala de sua
clareza e da responsabilidade dos crentes de lê-la e de entendê-la. Em uma
passagem muito conhecida, Moisés diz ao povo de Israel: “Que todas estas
palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência
a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando
estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar” (Dt
6.6,7). Esperava-se que todas as pessoas de Israel fossem capazes de entender
as palavras da Escritura o suficiente para conseguir ensiná-las a seus filhos.
Esse ensino não consistiria meramente em memorização mecânica esvaziada de
entendimento, porque o povo de Israel deveria discutir as palavras da Escritura
durante suas atividades, quando estivesse assentado em suas casas, ou ao se
deitar ou ao se levantar pela manhã. Deus esperava que todos dentre o seu povo
conhecessem e fossem capazes de falar a respeito de sua Palavra com a devida
aplicação às situações comuns da vida.
É dito que o caráter da Escritura é
de tal modo que mesmo “os inexperientes” podem compreendê-la corretamente,
tornando-se sábios. “Os testemunhos do SENHOR são dignos de confiança, e tornam
sábios os inexperientes” (Sl 19.7). Em outro lugar lemos que “a explicação das
tuas palavras ilumina e dá discernimento aos inexperientes” (Sl 119.130).
Aqui, a pessoa “inexperiente” não é
meramente a que carece de capacidade intelectual, mas a que carece de
julgamento sadio, que é propensa a cometer erros e que é facilmente induzida ao
erro. A Palavra de Deus é inteligível, tão clara que torna sábia até mesmo essa
espécie de pessoa. Isso deve servir de grande encorajamento a todos os crentes.
Nenhum crente deve pensar de si mesmo como se fosse incapaz de ler a Escritura
e de entendê-la suficientemente para se tornar sábio por meio dela.
Há uma ênfase semelhante no NT. O
próprio Jesus, em seus ensinos, suas conversas e discussões, nunca responde a
quaisquer perguntas com o intento de acusar as Escrituras do AT de não serem
claras. Ao contrário, estivesse ele falando a estudiosos ou a pessoas comuns
sem preparo, suas respostas sempre presumem que a acusação de entendimento
errôneo de qualquer ensino da Escritura não deve ser colocada sobre a
Escritura, mas sobre os que a entendem erroneamente ou que se recusam a aceitar
o que está escrito. Repetidamente ele responde a perguntas com afirmações
semelhantes a estas: “Vocês não leram...”(Mt 12.3,5; 19.14; 22.31),”Vocês nunca
leram isto nas Escrituras?” (Mt 2 1.42), ou mesmo: “Vocês estão enganados
porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!” (Mt 22.29; v. tb. Mt
9.13; 12.7; 15.3; 21.13; Jo 3.10).
Para que não pensemos que o
entendimento da Bíblia era de certo modo mais fácil para os cristãos do
primeiro século que para nós, é importante percebermos que em muitos exemplos
as cartas do NT foram escritas a igrejas que tinham grandes percentuais de
cristãos gentílicos. Eles eram cristãos relativamente novos que não tinham nenhum
conhecimento prévio de qualquer espécie de sociedade cristã, e que tinham pouco
ou nenhum entendimento anterior da história e da cultura de Israel. Os eventos
da vida de Abraão (c. 2000 a.C.) estavam no passado tão distante deles como os
eventos do NT estão de nós! Não obstante, os autores do NT não mostraram
qualquer hesitação, esperando que mesmo esses cristãos gentios fossem capazes
de ler uma tradução do AT em sua língua e de entendê-la corretamente (v.Rm
4.1-25; 15.4; lCo 10.1-11; 2Tm 3.16,17 ).
A NECESSIDADE DA ESCRITURA
A necessidade da Escritura pode ser
definida do seguinte modo: A necessidade da Escritura significa que a Bíblia é
necessária para o conhecimento do evangelho, para a manutenção da vida
espiritual e para certo conhecimento da vontade de Deus, mas não é necessária
para saber que Deus existe ou para saber algo a respeito do caráter de Deus e
das leis morais.
A SUFICIÊNCIA DA ESCRITURA
Podemos definir a suficiência da
Escritura da seguinte maneira: A suficiência da Escritura significa que a
Escritura continha todas as palavras de Deus que ele pretendeu que seu povo
tivesse em cada estágio da história redentora, e que agora ela contém tudo o
que precisamos que Deus nos diga para nossa salvação, para confiarmos nele
perfeitamente e para que lhe obedeçamos perfeitamente.
Essa definição enfatiza o fato de
que é na somente Escritura que devemos procurar as palavras de Deus para nós.
Ela também nos lembra que Deus considera o que nos tem dito na Bíblia como
suficiente para nós e que devemos nos regozijar na grande revelação que ele nos
deu, ficando contentes com ela.
A explicação e o apoio bíblico
significativos para essa doutrina são encontrados nas palavras de Paulo a Timóteo:
“Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de
torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15).O
contexto mostra que “as Sagradas Letras” aqui significam as palavras escritas
na Escritura (2Tm 3.16). Isso é a indicação de que as palavras de Deus que
temos na Escritura são todas as palavras de Deus de que precisamos a fim de que
sejamos salvos; essas palavras são capazes de nos tornar sábios “para a
salvação”.
Outras passagens indicam que a
Bíblia é suficiente para equipar-nos para viver a vida cristã. Em Salmos 119.1
afirma-se: “Como são felizes os que andam em caminhos irrepreensíveis, que
vivem conforme a lei do SENHOR!”. Esse versículo mostra a equivalência entre
ser irrepreensível e “viver conforme a lei do SENHOR”; os irrepreensíveis são
os que andam na lei do Senhor. Aqui temos a indicação de que tudo o que Deus
requer de nós está registrado na Palavra escrita. Simplesmente fazer tudo o que
a Bíblia ordena é ser irrepreensível à vista de Deus. Mais tarde lemos que um
jovem pode “manter pura a sua conduta”. Como? “Vivendo de acordo com a tua
palavra” (Sl 119.9). Paulo diz que Deus deu a Escritura a fim de que o homem de
Deus fosse “plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.17).
CONCLUSÃO:
É razoável concluir que
Deus inspiraria seus servos para que registrassem verdades que não poderiam ser
descortinadas pela razão humana. Finalmente, é razoável crer que Deus tivesse
preservado, por sua providência, os manuscrito das escrituras bíblicas e que
tivesse influenciado sua igreja a incluir no cânon sagrado somente os livros
que fossem divinamente inspirados.